O desafio não é exclusividade do Brasil. Em todo o mundo, diferentes sistemas de saúde, com modelos distintos de financiamento, têm enfrentado um desafio crescente e cada vez mais urgente da sustentabilidade. Em outras palavras, como manter a qualidade e a cobertura dos serviços a um custo acessível para a população?
Existem diversos fatores que vem ganhando força nos últimos anos, pressionando a sustentabilidade da saúde. Os custos aumentaram e devem continuar em alta, como resultado do envelhecimento das populações e dos avanços das ciências médicas, que resultam em terapias cada vez mais complexas e individualizadas. Desde o início da pandemia, esse cenário tem se agravado pela crise econômica.
Formou-se um desafio sem precedentes para gestores da saúde, que buscam alternativas para manter níveis de financiamento adequados à curva de inovação tecnológica, à curva demográfica-epidemiológica e às expectativas dos cidadãos.
As sociedades em todo o mundo estão pressionando os prestadores de saúde a reduzirem custos, enquanto as partes interessadas buscam melhorias na qualidade e no acesso aos serviços.
Desde a década de 1960, o desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias de saúde (incluindo produtos farmacêuticos), o envelhecimento da população, as expectativas mais elevadas e os preços mais elevados dos insumos de cuidados de saúde criaram uma crise de custos, com esforços crescentes de contenção.
Até a década de 1980, as questões de sustentabilidade e a ineficiência da prestação de cuidados de saúde ainda eram largamente resolvidas através da alocação de mais recursos financeiros nos sistemas de saúde, ou com o aumento das taxas das operadoras de planos de saúde.
Até a década de 1990, a possibilidade de combinar custos exorbitantes com aumentos no financiamento levou muitas organizações e sistemas de saúde a ignorar ineficiências no processo de produção, que posteriormente se mostraram insustentáveis.
Formou-se um ciclo vicioso, com diversos fatores de pressão ao sistema de saúde. A exigência aos políticos por mais recursos à saúde; a pouca atenção dada à eficácia e à eficiência dos processos para o cuidado ao paciente; os profissionais se concentrando no paciente individualmente, na eficácia dos cuidados e nos resultados baseados em evidências, com pouca atenção ao controle de custos; a autonomia dos profissionais da saúde reivindicada pelos médicos, todos esses fatores juntos fizeram com que os processos clínicos fossem tratados como uma “caixa preta”, na qual os gestores não deveriam interferir.
É claro que esta abordagem seria problemática a longo prazo. Sem mudanças na forma como os serviços de saúde são fornecidos, os cortes podem afetar principalmente o acesso, a equidade e a qualidade.
Nas últimas duas décadas, a maioria dos sistemas de saúde reorganizou suas estruturas e governança, mas tais esforços serão insuficientes a menos que sejam acompanhados pelo claro desenvolvimento de longo prazo de capacidades de gestão.
As evidências sugerem que a gestão impacta o desempenho, que está correlacionado com práticas de gestão, liderança, características dos gestores e atributos culturais associados a valores e abordagens gerenciais.
O que precisamos saber é como aumentar, apoiar e direcionar os investimentos no desenvolvimento de capacidades de gestão no sistema de saúde.